segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mais um tiro no pé do futebol português





Há atitudes inexplicáveis na vida. Desculpam-se, muitas vezes, com a juventude de quem as toma; ficamos atónitos quando elas partem de quem é responsável pela imagem de uma instituição e onde a juventude deixa de fazer sentido como ressalva.
A imagem insólita de um árbitro caído por terra, depois de um empurrão de um “armário” como é Luisão do Benfica, espanta pela crueza de um gesto irreflectido de um capitão de equipa, embora não creia que a “agressão” fosse de molde a explicar tanto espalhafato. No entanto, quando não contamos, um simples toque pode desencadear um desmaio momentâneo. E, se há coisa com que um árbitro não conta, desde logo num jogo particular, e porque está concentrado a olhar o cartão amarelo que vai exibir, é que lhe caia o céu – ou o inferno – em cima.
Arrumada a questão com a suspensão do jogo, entram em cena outros intérpretes da “verdade” circunstancial.
Confesso que, por princípio, duvido de pessoas que vendem a alma e os ideais. Se um sindicalista se passa para a trincheira do patrão, como se, por exemplo, Carvalho da Silva aceitasse um convite para administrador de uma grande empresa, eu tenho desde logo de duvidar dos ideais que alegadamente defendeu durante os tempos em que apenas pareceu defender os trabalhadores. Ele passou a defender o patrão, por certo a troco de uma subvenção assinalável, atendendo que está no topo da indústria do futebol no país.
António Carraça, pelo que disse do árbitro, conquistou o direito de ser considerado ridículo. E estou a chamar-lhe ridículo com todas as letras e todos os acentos, tónicos e átonos.
Em vez de pedir desculpa, em nome do atleta e do clube que lhe paga, atirou ainda mais achas para a fogueira, apelidando de patético o comportamento do árbitro alemão agredido. Não entendem estes agentes desportivos que, defendendo a violência, estão a abrir a porta a que essa violência se institucionalize?
Há muitas formas de ultrapassar gestos e atitudes, sobretudo se se fizer com verdade. O primeiro passo é reconhecer o erro. Branquear a atitude de Luisão é ir pelo caminho errado. É defender a violência no desporto.
Para finalizar,  uma pergunta: sendo Luisão um atleta experiente, com muitos anos de competição ao mais alto nível, o que o levou, num jogo que não contava para nada e em que o cachet da participação já estava depositado na conta independentemente do resultado, a cometer erro tão crasso? Será que este gesto tem por detrás outros contornos, reveladores do estado de espírito do Benfica para a próxima Liga? É assim tanto e tão grande o desvario que se plantou na equipa ao ponto de já nem o capitão saber comportar-se? A época ainda nem começou e já se nota que algo está a mais na cabeça dos jogadores do Benfica? Até que ponto o treinador Jorge Jesus é também responsável? Ou Luís Filipe Vieira? Terá Luisão escolhido este momento para revelar ao mundo o (seu) desconforto no seio do grupo de trabalho? E o que revelam as gargalhadas de escárnio de atletas e do próprio Jorge Jesus, nos momentos seguintes ao insólito, com palavras ditas de boca tapada mas com evidente gozo? Que falta de decoro e de classe!
Uma coisa é certa: quem verdadeiramente sai beliscado com esta imagem é o futebol português. Fora só o Benfica e eu estaria placidamente gozando no sofá. Mas esta imagem também me diz respeito como português!

1 comentário:

  1. Em tempo: Comparar o gesto de Luisão com o assertivo dedo de Jorge Jesus dirigido a Ola John pode ter algum fundamento e suporta em tese o que escrevi acima.

    A diferença está em José Mourinho, que assumiu publicamente o erro face a Tito Vilanova.

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